Convento da Arrábida, construído no século XVI, abrange, ao longo dos seus 25 hectares, o Convento Velho, situado na parte mais elevada da serra, o Convento Novo, localizado a meia encosta, o Jardim e o Santuário do Bom Jesus.
No alto da serra, as quatro capelas, o conjunto de guaritas de veneração dos mistérios da Paixão e algumas celas escavadas nas rochas formam aquilo a que convencionou chamar-se o Convento Velho.Lá dentro
São ruas como labirintos, com inúmeras imagens de barro em nichos. Ao chegar temos de passar pela estátua do seu fundador, Frei Martinho, na entrada da capela-mor, e logo no seu interior podemos admirar os retábulos pintados a óleo e uma figura de Cristo no altar. De seguida todo o conjunto de pequenas casas de adobe e taipa caiada. A cozinha, os lavadouros mais abaixo, e acima a biblioteca, o relógio, tudo intervalado por pequenas celas com vista para o mar que serviam de retiro de contemplação para os frades. Numa posição mais elevada está a capela do Bom Jesus, com a cúpula forrada de azulejos do segundo quartel do século XVII, cercada de ciprestes e de um jardim barroco. Tal como é regra nas regiões mediterrânicas, este Convento possui um sistema hidráulico bastante elaborado com um aqueduto e cisterna para aproveitar as pequenas fontes de água que brotam da serra e a preciosa chuva, com que regavam os jardins e a horta.
"Se não estou no Céu, estou nos seus arrabaldes"
A Bola de S. Martinho
Quem ía pela primeira vez à festa tinha que passar pelo ritual da "Bola de S. Martinho".
Andava-se à procura dos estreantes, e quando encontravam algum distraido, era tudo a agarrá-lo, ou a agarrá-la.
Geralmente os rapazes agarravam mais as raparigas, e elas mais os rapazes.
Era um jogo.
Uns pegavam pelos braços, outros pelas pernas e bumba!
Era preciso elevar o corpo para bater na bola, ou seja, a mais de um metro de altura.
A pessoa era agarrada, levantada, e tuca-tuca-tuca!
Batiam-lhe com o rabo três vezes na bola. Era uma festa, uma barulheira tremenda.
A malta nova aproveitava para dar um apalpão. Os velhos riam, porque também já tinham passado pelo mesmo.
Quanto mais a pessoa se encolhia, com mais força batia com o rabo na bola de S. Martinho, que tem um cadeado na boca, segundo uns para não falar, segundo outros para não beber.
É claro que muitas pessoas, apesar de já não ser a primeira vez, acabavam igualmente por ser agarradas, sobretudo à noite, e forçadas a bater com o rabo na bola, no meio de grande algazarra, de música e canções, como:
S. Martinho, à lapa
amanhã há papa
e quem não bebe o vinho
é o S. Martinho.
Então, vamos lá. Era uma vez um comerciante inglês de nome Haildebrant que vinha de barco com um carregamento de fazendas para mercandear. Consigo trazia uma imagem representando Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços, que teria sido a primeira no reino de Inglaterra. Após a barra de Lisboa ter-se-á levantado uma tempestade, os marinheiros buscaram refúgio dobrando o cabo Espichel, e rezaram à santa que traziam no barco, mas a Senhora já não se encontrava aí. Foi então que na noite uma luz intensa brilhou na encosta da serra, orientando os marinheiros para local seguro. Ao amanhecer aportaram a terra no local onde tinha sido avistada a luz, naquela que é hoje chamada a prainha de Alpertuche, e lá estava, junto ao rochedo, a santa.
Segundo ordens de Haildebrant, as fazendas que transportavam foram distribuídas pelos tripulantes e pelos pobres e com algum dinheiro que trazia mandou erigir nesse local um pequeno templo a que chamaram Ermida da Memória, começavam assim as romagens à divina Nossa Senhora da Arrábida.
Ainda hoje a ermida lá está, mas da sua história até ao século XV, pouco se sabe. Nesta altura pertencia ao 1º duque de Aveiro, D. João de Lencastre, que a ofereceu a Frei Martinho, religioso castelhano da ordem de S. Francisco, que aí se instalou em 1539 conjuntamente com outros três religiosos castelhanos e um português. Com a morte de Frei Martinho em 1547 a espiritualidade destes frades altera-se no sentido de uma maior intelectualidade. São erigidas pequenas capelas e ermidas na serra formando o que é hoje chamado de “Convento Velho”. No princípio do século XVI aí viveu os seus últimos anos Frei Agostinho da Cruz, considerado o poeta da Arrábida. Só em 1662 por ordem do 3º duque de Aveiro é que é iniciado e fica completo o actual conjunto do chamado “Convento Novo” ou Convento da Arrábida.
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