Convento da Arrábida

O Convento da Nossa Senhora da Arrábida, que pertenceu à Província de Arrábida, fica meio escondido entre as árvores da vertente sul da serra, virada para o mar. Esta construção do século XVI foi outrora um mosteiro franciscano. As cinco torres redondas sobre a falésia foram talvez usadas para meditação solitária.

Convento da Arrábida, construído no século XVI, abrange, ao longo dos seus 25 hectares, o Convento Velho, situado na parte mais elevada da serra, o Convento Novo, localizado a meia encosta, o Jardim e o Santuário do Bom Jesus.
No alto da serra, as quatro capelas, o conjunto de guaritas de veneração dos mistérios da Paixão e algumas celas escavadas nas rochas formam aquilo a que convencionou chamar-se o Convento Velho.







Lá dentro
São ruas como labirintos, com inúmeras imagens de barro em nichos. Ao chegar temos de passar pela estátua do seu fundador, Frei Martinho, na entrada da capela-mor, e logo no seu interior podemos admirar os retábulos pintados a óleo e uma figura de Cristo no altar. De seguida todo o conjunto de pequenas casas de adobe e taipa caiada. A cozinha, os lavadouros mais abaixo, e acima a biblioteca, o relógio, tudo intervalado por pequenas celas com vista para o mar que serviam de retiro de contemplação para os frades. Numa posição mais elevada está a capela do Bom Jesus, com a cúpula forrada de azulejos do segundo quartel do século XVII, cercada de ciprestes e de um jardim barroco. Tal como é regra nas regiões mediterrânicas, este Convento possui um sistema hidráulico bastante elaborado com um aqueduto e cisterna para aproveitar as pequenas fontes de água que brotam da serra e a preciosa chuva, com que regavam os jardins e a horta.






Frei Martinho de Santa Maria  ao chegar à Serra da Arrábida em 1539 disse:
 "Se não estou no Céu, estou nos seus arrabaldes"

A Bola de S. Martinho
Quem ía pela primeira vez à festa tinha que passar pelo ritual da "Bola de S. Martinho".
Andava-se à procura dos estreantes, e quando encontravam algum distraido, era tudo a agarrá-lo, ou a agarrá-la.
Geralmente os rapazes agarravam mais as raparigas, e elas mais os rapazes.
Era um jogo.
Uns pegavam pelos braços, outros pelas pernas e bumba!
Era preciso elevar o corpo para bater na bola, ou seja, a mais de um metro de altura.
A pessoa era agarrada, levantada, e tuca-tuca-tuca!
Batiam-lhe com o rabo três vezes na bola. Era uma festa, uma barulheira tremenda.
A malta nova aproveitava para dar um apalpão. Os velhos riam, porque também já tinham passado pelo mesmo.
Quanto mais a pessoa se encolhia, com mais força batia com o rabo na bola de S. Martinho, que tem um cadeado na boca, segundo uns para não falar, segundo outros para não beber.
É claro que muitas pessoas, apesar de já não ser a primeira vez, acabavam igualmente por ser agarradas, sobretudo à noite, e forçadas a bater com o rabo na bola, no meio de grande algazarra, de música e canções, como:

S. Martinho, à lapa
amanhã há papa
e quem não bebe o vinho
é o S. Martinho.



Não há construção religiosa que se preze sem uma lenda ou milagre para contar, e a Arrábida e o seu convento não são excepção. Corria então o ano da graça de 1215, reinava Afonso II de Portugal e como todas as lendas, começa por: era uma vez.

Então, vamos lá. Era uma vez um comerciante inglês de nome Haildebrant que vinha de barco com um carregamento de fazendas para mercandear. Consigo trazia uma imagem representando Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços, que teria sido a primeira no reino de Inglaterra. Após a barra de Lisboa ter-se-á levantado uma tempestade, os marinheiros buscaram refúgio dobrando o cabo Espichel, e rezaram à santa que traziam no barco, mas a Senhora já não se encontrava aí. Foi então que na noite uma luz intensa brilhou na encosta da serra, orientando os marinheiros para local seguro. Ao amanhecer aportaram a terra no local onde tinha sido avistada a luz, naquela que é hoje chamada a prainha de Alpertuche, e lá estava, junto ao rochedo, a santa.

Segundo ordens de Haildebrant, as fazendas que transportavam foram distribuídas pelos tripulantes e pelos pobres e com algum dinheiro que trazia mandou erigir nesse local um pequeno templo a que chamaram Ermida da Memória, começavam assim as romagens à divina Nossa Senhora da Arrábida.

Ainda hoje a ermida lá está, mas da sua história até ao século XV, pouco se sabe. Nesta altura pertencia ao 1º duque de Aveiro, D. João de Lencastre, que a ofereceu a Frei Martinho, religioso castelhano da ordem de S. Francisco, que aí se instalou em 1539 conjuntamente com outros três religiosos castelhanos e um português. Com a morte de Frei Martinho em 1547 a espiritualidade destes frades altera-se no sentido de uma maior intelectualidade. São erigidas pequenas capelas e ermidas na serra formando o que é hoje chamado de “Convento Velho”. No princípio do século XVI aí viveu os seus últimos anos Frei Agostinho da Cruz, considerado o poeta da Arrábida. Só em 1662 por ordem do 3º duque de Aveiro é que é iniciado e fica completo o actual conjunto do chamado “Convento Novo” ou Convento da Arrábida.


 

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