Quando Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacob tinha dado ao seu filho José. Ficava ali o poço de Jacob. Então Jesus, cansado da caminhada, sentou-se, sem mais, na borda do poço. Era por volta do meio-dia.
Entretanto, chegou certa mulher samaritana para tirar água.
Disse-lhe Jesus: «Dá-me de beber.»
Disse-lhe então a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?» É que os judeus não se dão bem com os samaritanos. Respondeu-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: ‘dá-me de beber’, tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!»
Disse-lhe a mulher: «Senhor, não tens sequer um balde e o poço é fundo... Onde consegues, então, a água viva? Porventura és mais do que o nosso patriarca Jacob, que nos deu este poço donde beberam ele, os seus filhos e os seus rebanhos?»
Replicou-lhe Jesus: «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede; mas, quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der há-de tornar-se nele em fonte de água que dá a vida eterna.»
Foi esta passagem do envangelho de S. João que inspirou o construtor da fonte do Largo do Quebedo, que devido à sua pouca ornamentação, facilmente fica despercebida a quem por ali passa.
Pela assimetria de alguns elementos, caracteristica do estilo rococó, facilmente de depreende tratar-se de uma obra do meado do séc. XVIII, embora utilizando símbolos característicos do estilo manuelino.
A fonte, toda de cantaria de calcário, cujo frontispício é delimitado por volutas e encimado por um frontão sem base, pode dizer-se que é formada por duas partes essenciais:
Em baixo, o chafariz com duas bicas;
Em cima, o frontispício com o escudo e coroa.
Na parte de baixo, o chafariz semicircular com o largo rebordo arredondado, lembra o bordo de um poço, para simbolizar o poço de Jacob, onde a samaritana foi encher a bilha enquanto Jesus Cristo lhe pediu de beber.
As bicas são duas (dois é o número da terra), para simbolizar que aquela água é água terrena; e são feias as duas máscaras por onde sai a água, para simbolizar a imperfeição das coisas terrenas e daquela água, que só por momentos alivia os tormentos da sede, como disse Jesus.
Na parte de cima, o escudo que está no frontispício é envolvido por ramagens, espirais, univalves e volutas talhado num só bloco, sem emendas nem imperfeições.
O escudo, com as quinas nacionais, tem a forma de coração, para representar o coração da Nação Portuguesa.
No lado direito do escudo, entre algumas folhas de aquáticas espadanas, um ramo contém, em cima, um girassol, simbolizando Jesus Cristo; depois uma rosa, representando a Virgem Maria; junto estão também cinco pequenas flores de cinco pétalas, representando pessoas. A que está junto ao girassol (Cristo) representa a samaritana, as outras quatro que estão junto à rosa, representam pessoas que aos pés da Virgem rogam a Jesus por aquela água viva que, entrando pelo coração, conduz à glória da vida eterna.
No seu lado esquerdo, o escudo tem um ramo de loureiro com cinco bagas.
O loureiro simboliza a glória; as cinco bagas, representam aqueles humanos que, de coração receptivo à água viva da palavra de Jesus, entraram em glória na vida eterna.
Duas das bagas estão em baixo, representam o corpo do homem vindo da terra, e ficando em baixo na terra, as outras três bagas que estão separadas em cima, representam o espirito do homem vindo do céu, e, agora, subindo ao céu em glória.
Por cima deste belo conjunto de elementos simbólicos, está uma coroa real, indicando-nos o patrocinador desta construção.
É certo que esta fonte não tem ninfas, nem as vénus, os tritões ou os neptunos das grandes fontes monumentais, mas, bem observada, na sua simplicidade e profundidade do seu simbolismo, a sua beleza espiritual ultrapassa, em muito, a beleza física de muitas dessas fontes monumentais.
É que as belezas materiais geram sombras, enquanto que a beleza espiritual gera luz.
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